quarta-feira, 14 de julho de 2010

PENSAR A HISTÓRIA - A REPÚBLICA E A IGREJA

A IGREJA E OS CEM ANOS DA REPÚBLICA


Contrariando as previsões de Afonso Costa, a “Lei da Separação (1911) despertou nos católicos uma vitalidade insuspeitável” – disse D. Manuel Clemente, bispo do Porto, na primeira sessão de 2010 do Seminário «Religião, Cristianismo e Republicanismo». Promovida pelo Centro de Estudos de História Religiosa da UCP, esta iniciativa integra-se no Programa Oficial das Comemorações do Centenário da República. Aos participantes no seminário, o bispo do Porto falou sobre a «A vitalidade católica no contexto da República». Nos anos seguintes à Implantação da República (5 de Outubro de 1910), a resistência do clero foi apoiada pelos cristãos. Reunidos em Santarém, a 10 de Julho de 1913, os bispos lançam um apelo aos católicos. O chamado «apelo de Santarém» alterou o panorama sócio religioso da sociedade portuguesa. “Defesa e afirmação da Igreja; catequização e restauração da sociedade portuguesa com o contributo da Igreja” foram as linhas mestras que marcaram o catolicismo português na primeira metade do século XX.A “radicalização de Afonso Costa (pasta da Justiça e Cultos) não afastou os católicos. Pelo contrário deu-lhes força” – realçou o historiador e bispo do Porto, na sessão realizada, dia 21 de Janeiro, na Universidade Católica. A Igreja defendia a separação do Estado, mas “não neste quadro”. O «corpo católico» “não tinha saudades”da monarquia constitucional e “não rejeitou o regime republicano”. Ainda estava bem presente o decreto de 2 de Janeiro de 1862, em que o padre “se apresentava a concurso” para exercer o seu múnus nas paróquias. “Nenhum bispo queria a legislação de 1862” – confidenciou D. Manuel Clemente. O problema é que Afonso Costa queria “somente uma República com republicanos”e “considerava que a religião tinha um papel negativo” na sociedade portuguesa. Neste contexto, os católicos portugueses levantaram a voz e contestaram “a facção mais radical dos republicanos” – sublinhou D. Manuel Clemente. Para a figura mais relevante da primeira república (Afonso Costa), o catolicismo era visto como um “resquício dos tempos obscuros”. As obras de Herculano e Antero são exemplo deste sentimento republicano. Para o bispo do Porto, a ideia de que a decadência de Portugal se devia primeiro aos jesuítas e depois ao clero “era anterior ao republicanismo”. Quando Afonso Costa afirma que acabaria com o catolicismo em duas gerações, “esta ideia tinha 150 anos” – refere. A primeira República é o culminar de um caminho feito ao longo dos anos. Como o pensamento republicano não concordava com a proposta religiosa, através de legislação (22 de Outubro de 1910) “é proibido o ensino da doutrina cristã nas escolas primárias”. No ano seguinte (22 de Janeiro) é extinto o culto na Universidade de Coimbra. Como afirmou D. Manuel Clemente, a primeira República pretendia a emancipação das ciências a elementos estranhos à razão”. Citando António Reis, o historiador afirma: “o laicismo dos republicanos sacrificou a neutralidade do Estado”. Os primeiros anos da República colocaram em sobressalto a hierarquia da Igreja. Vários bispos foram destituídos das suas dioceses. “D. António Barroso não cumpriu as ordens de Afonso Costa e foi destituído da diocese do Porto” – frisou. A ideia de uma República só para republicanos fez brotar nos católicos uma “consciência mais definida da opção religiosa”,“uma resistência na defesa dos valores” e “uma necessidade de formação dos crentes para a restauração do país”.

Pesquisa realizada pelo Professor Pedro Nunes

quarta-feira, 7 de julho de 2010